10/05/2009

perigo

Ontem senti realmente que tenho uma doença.
Já há algum tempo que a tenho. Que sei que tenho uma doença crónica diagnosticada e que por isso não pago taxas.
Sei-o.
Sempre soube como era a doença e dos seus perigos. Mas talvez por me ter sido diagnosticada já em adulta eu nunca tomei consciência dos seus perigos reais.
É crónica mas não é nada de especial. Digo eu, costumo dizer eu, mas ontem senti-a. Ontem senti-a...
Asma. Podia dizer que não é nada de especial e não tem sido. Foi-me diagnosticada há 10 anos. Mas só ontem vi a sua dimensão.
Descobri que a tinha porque tive um ataque que me levou ao hospital sem conseguir respirar. Nessa noite descobri que tinha asma e que era alérgica a alguma coisa. Depois vieram os testes, as vacinas, a medicação de prevenção e tudo o resto que quem sofre deste mal já sabe. Fui vivendo com os medicamentos sempre comigo e tenho passado anos bons. No ano passado a bomba não saiu da mala e não foi usada. Pensava eu que ía ser igual...
Ontem tive um bom dia. Ontem tive um dia em que as coisas corriam bem e que me estava a divertir. Ontem foi um dia em que comecei a rir como há muito não fazia.
Comecei a rir e a reconhecer os sintomas de falta de ar...
Disse em voz miudinha que tinha de ir fazer a bomba que não conseguia respirar... Ninguém me ouviu... Fui fazer a bomba... fiz vezes a mais, mas estava como não me lembrava de estar... Melhorei. Voltei para a animação. Voltei para onde estava antes e onde queria mesmo estar.
Não consegui. Passei de estar bem para estar tonta e sem forças... Encostei-me, sentei-me e pedi ajuda discretamente. Era dia de festa, não a queria estragar e não a podia estragar. Uma das enfermeiras ali presente veio ter comigo e comigo ali ficou... Estava mal e não me devia sequer mexer. Taquicardia, disse-me ela. Por ali fiquei, melhorando, piorando um pouco, mas fiquei. Não assisti à festa da noite, não pude. Mal falava. Não conseguia. Não tinha forças.
Estive mal. Agora sei que foi preocupante, porque a senti. Senti a doença como só uma vez a tinha sentido. A aflição estava controlada. Mas o sistema nervoso estava apagado e comecei a chorar não sei porquê.
Passou despercebido e se não fosse estranharem eu não estar na festa, não saberiam que eu estava mal.
Estive mal. Senti-o.
Hoje um cansaço gigante. Como se não tivesse dormido.
Amanhã verei como acordo. Mas senti-a. Agora sei mesmo que a tenho.

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