Sorrio

Quero acreditar com tanta força no que me dizes, que sei que assim vou acreditar mesmo. Que sei que assim que o fizer essa verdade vai entrar como o ar entra em mim, como o ar que preciso entra em mim.
O mundo não é branco e preto, como desejava que agora fosse. O mundo e as pessoas têm partes cinzentas nas quais não se percebe bem o que é real e aquilo que gostava que fosse real.
Há uma semana mostraste-me a tua cidade, os teus sítios, os teus espaços e parecia que só ali estávamos nós. Parecia que falavas directamente para mim, quando, afinal, mais pessoas partilhavam daquele momento connosco.
Nada mais interessava. Só tu ali.
Não falei contigo por vergonha, por medo, eu sei lá... Aproximavas-te de mim e ouvia-te com atenção, ouvia-te sabendo que nunca mais iríamos conseguir partilhar outro momento assim.
O tempo não volta atrás, mas se voltasse tinha-te dado o braço e iria conhecer tudo o que me faltava conhecer. Tinha-te dado o braço para te sentir perto de mim, como antes... Tinha-te dado o braço para te conhecer. Tinha-te dado a mão para me aqueceres, novamente. Tinha-te dado a mão para eu te guiar sem palavras, por um caminho que tu bem conhecias.
Não fiquei contigo nessa noite porque nos separámos... Eu entrei no elevador, tu ficaste a ver-me descer. Só quando cheguei ao quarto é que percebi que todo aquele passeio foi para mim. Que toda aquela noite a preparaste para mim.
Gostava que me tivesses levado pelo braço e que te tivesses apresentado a mim. Agora... agora já não posso... Apetece repetir, mas o tempo não volta atrás e a vida também não.
Sorrio e penso em ti. Penso no momento que passámos juntos. Em silêncio a olhar para a outra margem, até depois ter olhado para ti e ver que também me olhavas.
Sorrio e sou feliz. Tu és parte da minha felicidade, mas... não te peço nada. Apenas que sejas tu quando um dia a vida nos fizer encontrar novamente, quando nós nos encontrarmos novamente...