29/09/2006

Partidas...

A Patrícia partiu no 11 de Setembro.
A minha vizinha Bia partiu ontem.
Já antes a minha rua tinha tido outra baixa... a vizinha Antónia.
É incrível como a lei da vida e da morte nos faz repensar tudo aquilo que julgamos que temos certo e aquilo que temos ou que não temos, aquilo que nos permite viver.
O que custa não é pensar em quem foi. O que me custa não é saber que não vou ver mais aquelas pessoas, que nunca mais lhes vou dizer bom dia, boa tarde. O que me custa não é saber que elas já não vão estar nos seus quintais quando volto de viagem.
O que me custa é saber e ver o sofrimento dos seus familiares. O que me custa é ter visto a Lília a gritar pela Avozinha e saber que a Avozinha não vai poder ver o seu bisneto. O que me custa é ter visto o Rui e a Isaura com o desespero na cara. O que me custa é ter visto o Lopes a chorar e a dizer que não sabe o que vai ser dele agora.
Isso sim custa-me. Custa-me porque sei o que eles estão a sentir. Por que sei o que é perder a minha avó. Por que sei que também eu entraria em desespero por ficar sem a minha mãe.
Custa-me não ter a minha avó para lhe ir falar quando chego de viagem. Quantas vezes, ainda hoje, passado quase 5 anos, saio de casa e penso em ir ali, à rua do lado, à casa da minha avó.
Quantas vezes me lembro da mesa de granito do quintal. Quantas vezes me lembro do seu feitio difícil e que eu era a única que a domava...
Quantas vezes depois de me lembrar disto eu sei que ela está a olhar para mim. Eu sei. Tenho a certeza. Não sei como. Não sei porquê. Só sei que ela está à espera que me case. Ela morreu e esse era o seu maior sonho. Ela era de uma altura em que as pessoas só eram felizes casadas, nem ela sonhava que se podia ser feliz sozinha. Não imaginava nem queria. O que ela queria era que eu fosse feliz.
E eu o que quero? Ser feliz. Sempre quis. É o meu desejo, de sempre, para sempre.

1 comment:

  1. Ironicamente a nossa maior certeza, a morte, é tb o nosso maior mistério...o mais intrigante talvez...

    ReplyDelete