Hoje ela estava alegre, estava radiante. O chefe tinha-lhe elogiado o trabalho, os colegas pareciam que a tinham descoberto, ou melhor, que tinham descoberto como ela era simpática, como ela era amiga, como o seu sorriso podia trazer mais sorrisos e mais alegria às pessoas…
Hoje sim foi um bom dia, mas as recordações eram terríveis demais… Quando se sentava sozinha no sofá, em casa parecia que ele estava ali de novo.
- Que tal o teu dia?
- Normal.
- Está tudo bem?
- Sim.
- Queres que te faça o jantar? Perguntava-lhe, pensando que era assim que se era feliz, pensando que a felicidade estava nesta pequena troca de palavras, uma refeição partilhada em silêncio e uma noite, dormida sem contacto, sem um abraço, sem um beijo sem um Boa-Noite…
Nessa altura ela pensava que era feliz… Agora, ela via que não! Agora era diferente.
Não a ajudou mudar a disposição dos móveis… eram apenas móveis!
Não a ajudou mudar o quarto de divisão… o seu cheiro continuava lá.
Quando mudou para o outro lado da cidade descobriu que tinham passeado por lá… Ele continuava por ali.
Foram meses de agonia, semanas de sofrimento, dias de choro compulsivo, sem que nada nem ninguém a pudesse ajudar.
Num ímpeto de súbita vontade de melhorar, empacotou tudo, meteu tudo no carro e só parou quando a cidade por que passava lhe pareceu agradável. Depois tratou de tudo o resto.
Foi bom recomeçar. Foi bom saber que ali poderia recomeçar.
Ali não havia lembranças.
Ali não havia cheiros.
Ali ele não estava.
E hoje… sim, hoje… Ela vai ter uma noite muito boa. Com alguém que lhe está a cozinhar o jantar. Com alguém que lhe pergunta como foi o dia. Com alguém que a abraça assim que ela chega. Hoje…
Hoje ela volta a ser feliz. Hoje ela sabe que o passado não interessa e que hoje vai ser feliz.
É pura ficção.
ReplyDeleteSerá mesmo?
ReplyDelete...Fale-me sobre sua infância...
: ) rsrs!
Ficção ou não, é lindo.
ReplyDeleteParabéns, Tamia, você escreve muito bem.
Fofa, isso da terceira pessoa tem de acabar. Tu és linda é na primeira ;) MUitíssimo bem escrito.
ReplyDeleteÉ verdade. Há recordações que vivem em cada lugar, em cada música... E é difícil fugir delas. Mas o recomeço é possível. Acredito nisso com todas as minhas forças!!!
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