O grande problema do amor é não nos poder ser dado por alguém que escolhamos como certo e saibamos ser o melhor para nós. Desafortunadamente, o amor não se escolhe assim – antes fosse – e na maior parte das vezes opta justamente pelo sentido inverso. E do mesmo modo que existem doenças que precisam de um dador certo de medula para se curarem, também o amor não pode ser dado por qualquer um. E isso é que é o cabo dos trabalhos. Não fosse isso e o amor seria tão simples.
Que pena não haver uma marca branca para o amor, como agora se faz para alguns produtos de supermercado. Tão bom seria se, precisados de amor, simplesmente o adquiríssemos junto de quem estivesse disposto a dar-nos. O problema é que nós precisamos de estar prontos para recebê-lo. Senão, era muito fácil: ia-se à prateleira, tirávamos a quantidade de amor necessário para nos alimentarmos e, findo o stock, regressaríamos ao mesmo local para nos reabastecermos. Há quem faça isto com o sexo – e com o sexo dá e é muitíssimo bom – mas, com o amor, não se metam nisso. O amor não tem one night stand. Amar alguém não se pode fazer quando nos apetece, exige militância, acordar cedo para estar esticadinho na formatura.
Amar é estar nos quadros de uma empresa em lugar ministeriável, ter sexo é ser colaborador a recibo verde. Por isso é que há mais gente a ter sexo do que a amar – e reparem que não estou a adoptar nenhum dos lados –, mas quem ama pode ter sexo e quem tem sexo pode nunca conseguir amar.
Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
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