A certeza do toque
Ele descobriu hoje que está sozinho. Mais concretamente pela manhã, quando ela saiu, bateu a porta de casa com mais força do que o habitual e depois manteve o telemóvel desligado pelo menos até à hora do almoço. A essa hora, esta hora, ele desistiu de lhe ligar e fez uma descoberta mais grave: já está sozinho há vários anos. Talvez por isso procure agora na água que cai do chuveiro uma carícia na pele, aquela que ela não lhe fez. E pelo ralo se escoa a promessa dum Amor para o tempo que ainda há-de vir.
E talvez seja essa carícia da água a dizer-lhe que o maior é erro é falar de Amor como se fala do tempo, esse tempo que não se sabe de onde vem nem para onde vai. Talvez o Amor não deva nunca ser uma promessa e só dessa forma possa ser uma certeza. A certeza do toque.
A certeza do toque é certeza da mão dada, do beijo, da penetração ou do abraço. É a certeza do sono a dois e do chocolate que se divide em trincas ainda mais doces. É a certeza do ar que se partilha e se respira devagar. Sem toque não há certeza, mesmo que o tempo esteja lá e perdure.
bagaço amarelo, Não compreendo as mulheres
Texto, interessante e muito bem delineado...o que uma mulher mal amada pode fazer...bater a porta ir embora, não partilhar mais o seu amor por alguém que não saiba respirar o mesmo ar! Adorei
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